Há 25 anos, tive a felicidade de liderar uma fantástica equipa de voluntários que organizou as Festas PRAIA 99. Na vertente musical, contactei directamente com vários artistas locais, nacionais e estrangeiros. Foram muitas as dificuldades que tivemos de enfrentar, de forma a satisfazer as necessidades e as exigências de cada um dos grupos.
Na última 5ª feira, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo acolheu, e bem, no seu Centro Cultural, um concerto do clã Bettencourt cujo sangue é repleto de notas musicais. Raríssimas são as vezes em que os Açores são anfitriões de um dos melhores do mundo, como é o caso do guitarrista e vocalista Nuno Bettencourt, filho da Praia da Vitória.
Este encontro familiar há anos que constitui um dos momentos altos da parca oferta cultural praiense, sempre com casa cheia. Aparentemente, por uma incompreensível e inexplicável dificuldade de comunicação, entre os organizadores e o município, não foi encontrada solução para que o evento decorresse na cidade berço dos artistas. As redes sociais foram inundadas por críticas a esta situação, aumentadas por um confuso e inconclusivo comunicado por parte da autarquia. Convém recordar que os lucros resultantes deste evento revertem em prol da Filarmónica União Praiense.
Continua-se, tantas vezes, a pensar pequenino, desvalorizando aquilo que é nosso, seja em termos culturais ou nas mais variadas áreas da vida em sociedade. Quantas e quantas vezes, aqueles que têm responsabilidade de gerir a causa pública, fazendo disso a sua actividade profissional, ignoram os dirigentes das instituições que trabalham voluntariamente em prol da sociedade em que todos vivem.
Quando se procuram dirigentes para os clubes, associações e festividades, invariavelmente aqueles que se mostram mais disponíveis são os que têm vidas mais preenchidas e, consequentemente, menos tempo disponível.
Quão útil seria se para ocupar um cargo público fosse exigível, além de ter a obrigatoriedade de exercer uma profissão, que os candidatos tivessem experiência prévia de voluntariado que fosse além de meras tarefas de colar cartazes ou fazer voltas ao abrigo das Jotas.
É bastante difícil de entender que vários autarcas, por estas nossas ilhas, tenham indisponibilidade de agenda para reunirem com os voluntários que lideram instituições dos seus concelhos, de forma a discutirem assuntos de interesse dessas comunidades.
Por outro lado, assinale-se que, em boa verdade, há também casos que confirmam a regra, de total e permanente disponibilidade para atender a todos os que lhes batem à porta, como sejam, por exemplo, os autarcas de Angra do Heroísmo, Lagoa ou Velas.
Mais incompreensível se torna quando, para esses mesmos assuntos, no Governo Regional, Presidente, Vice-Presidente ou alguns Secretários Regionais têm tempo e interesse em analisar e debater esses temas. Será questão de disponibilidade ou de agenda?
Olhando para este quarto de século que passou, fica a ideia de que quanto mais nos afastamos do 25 de Abril de 1974, mais se vai perdendo a chama da audácia de experimentar coisas novas, de colocar o interesse geral à frente de questiúnculas pessoais. Fica a faltar o progresso que é gerado pela diferença de opiniões, optando-se por afastar aqueles que são dissonantes, numa política de eucalipto, com o intuito de secar tudo à sua volta.
É tempo de respeitarem e valorizarem os voluntários que exercem as suas tarefas com brio e profissionalismo, sem qualquer retribuição monetária, mas com a enorme gratificação de se sentirem úteis.
Luís Vasco Cunha
Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
*ZONA FRANCA discorda ortograficamente
