Jornal da Praia (JP) – Quem é Pedro Rocha, também conhecido por Ti Pedro?
Pedro Rocha (PR) – Ti Pedro é devido à parte profissional. Desde os meus 14 anos que trabalho em hotelaria e restauração. Sou Ti Pedro porque os mais novos chamam-me assim “Oh Ti Pedro! Oh Ti Pedro dá uma cerveja” e os meus sobrinhos já me chamam assim também. Nasci na freguesia de Agualva. Comecei a trabalhar na Residencial Cruzeiro como mandarete, ou seja, fazia as voltas do escritório e levava as malas para os quartos. Foi assim que comecei. Depois passei para o bar e em 1983 fiz o curso de bar no Hotel de Angra promovido pela Direção Regional do Turismo. Comecei a seguir a minha carreira nesta área. Vim para os Biscoitos para o restaurante do Porto dos Biscoitos, trabalhei 18 anos. Depois montei negocio por minha conta com a Casa de Pasto “O Pedro” aqui ao lado em frente à igreja. Foram 16 anos com este negócio. Devido a questões familiares decidi mudar para este novo espaço e assim nasceu o restaurante “Ti-Pedro”, ao lado do meu anterior espaço.
JP – e a Poesia como é que surgiu na sua vida?
PR - Sempre gostei de Poesia. Desde o meu tempo de escola que gostava de escrever. Mesmo em criança, durante os “terços” do Divino Espírito Santo, os mais velhos sabiam que eu gostava de Cantoria, de cantar algumas quadras, nem todas bem enquadradas, mas eles gostavam e fui continuando pela vida fora escrevendo e cantando.
Li alguma poesia… comecei mesmo a escrever poesia por volta dos meus 14 anos. Na escola sempre que era possível lá dizia ou escrevia um poema, foi assim que fui acumulando o que escrevia.
Ao longo dos anos participei em Danças de Carnaval, participei em Cantorias, fiz teatro e ajudei a fundar o grupo de teatro Pedra-Mó.
JP – Como é que surge a inspiração e a vontade para escrever este género literário?
PR – Tenho uma vida muito atarefada como vê… geralmente escrevo depois da meia noite… nem sei se tenho algum poema que escrevi antes da meia noite… é aquela hora calma e serena que tenho disponível para escrever e tem haver com o “estado de alma”.
A Poesia é um “estado de alma”, um “estado de espírito” da pessoa, uma forma de observar as coisas e no meu ponto de vista, de tentar dizer com poucas palavras o que precisa uma página inteira explicar. Porque, a interpretação poética das pessoas é conforme aquilo que elas leem e não conforme o que escrevo porque cada um tem a sua interpretação. Podem ter interpretações diferentes de quem escreveu. Ou seja, eu consigo metaforicamente falando, de em poucas palavras fazer com que o leitor atinge um objetivo maior.
JP – Pegou então nos seus poemas e decidiu compilá-los…
PR – Peguei nos meus poemas e sendo amigo do nosso estimado poeta açoriano, Álamo Oliveira, fui ter com ele e perguntei-lhe “Olhe Sr. Álamo eu tenho isto e o senhor vai ver se isto é digno de ser ou não publicado!” pelo que respondeu “É sim senhor! Está muito bom e estou aqui pronto para ajudar no que for preciso!”. Foi com a ajuda dele e do Rui Melo, meu primo, que eu editei o livro.
O Rui Melo e o Álamo colaboraram com a parte gráfica.
JP – E a reação dos leitores, de quem já leu o livro?
PR – Os que dizem, gostaram… Não faço escrita difícil nem é o meu objetivo. Gosto de escrever para as pessoas que me conhecem, para o povo da minha terra…
JP – Onde se inspira para escrever… quem são as suas musas de inspiração?
PR – Gosto muito da minha ilha, gosto muito do mar, gosto muito da natureza, gosto de observar as pessoas e construir a minha ideia, acho que o ser humano precisa de ser alertado… são bases para os meus poemas. Quem ler o livro sabe perfeitamente que os meus pensamentos e formas de ser estão nestes poemas.
JP – Numa altura de redes sociais e novas tecnologias, o porquê de um livro. Não estará em desuso?
PR – Mas sabe que temos de acreditar. Uma frase excelente de um poeta que escreveu que “Todo o homem deve plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro”, é uma frase bem conhecida mas que tem a sua grande força de ser. O livro transmite o conhecimento das pessoas, daquilo que são capazes. O livro guarda-se é uma parte nossa é físico, tocamos… é para a vida. Um filho é para a vida, uma árvore é para a vida e o livro também é para a vida.
Vivemos num mundo apressado, sem tempo para ouvir e ler com calma, o profundo sentido daquilo que está por detrás das coisas. Ler um poema é a mesma coisa. Um poema não é só abrir um livro… os livros de poesia não tem muitas páginas, exceto uma compilação. Não precisam de ser grandes para dizer muito, mas temos de procurar fundo os sentimentos que as palavras transmitem. Costumo dizer que livros pequenos são como os frascos de perfume ou de veneno. São pequenos por alguma razão e os livros de poemas são assim.
JP – Em termos de métrica, de estrutura de escrita?
PR – Escrevo dentro dos meus enquadramentos e não vou à procura de uma métrica. Se me serve é o que eu quero escrever…
A escrita da poesia é momentânea. Escrevo no momento e fica.
JP – Na calha está mais outro livro?
PR – Eu gosto e é capaz de haver mais outro livro, mas com muita calma e sem pressas. Tenho mais poemas guardados. Estou com 58 anos e com este livro quero deixar algo meu para o futuro, para que se lembram de mim.
JP – É bom saber que temos escritores que publicam poesia. É bom sabermos que existe um Pedro Rocha numa freguesia que publicou um livro de Poesia, um poeta!
RP - …um aprendiz! (hahahaha). Gosto da Poesia em si. Normalmente o que acontecem é que os poetas, todos eles, são mais lidos depois de mortos do que durante a vida.
O Álamo Oliveira tem tanta coisa editada, de qualidade, não faz só poesia, mas é um escritor pouco falado na nossa ilha. Outro exemplo é daqui dos Biscoitos, trata-se do poeta Ivo Machado, tem muitos livros publicados e na nossa ilha não se ouve falar dele. Gostava que as pessoas lessem mais… isso é o desuso. Outro exemplo é o poeta Emanuel Félix. Caem no esquecimento, vão ser lembrados, mas não nossa geração!
JP – Ainda não falamos do titulo do seu livro “Retalhos de um Aprendiz”… o porquê deste título? “Retalhos” são os seus poemas e “Aprendiz”, é o Pedro Rocha?
RP – “Retalhos” são os poemas que consegui juntar ao longo dos anos, e juntei os meus retalhos que consegui colocar dentro de um livro. Como não me sinto um poeta, porque um poeta é muito mais que o Pedro Rocha, mas como gosto de Poesia, é que optei por este título e as pessoas depois tiram as suas conclusões e se não gostarem também não se vão admirar muito pois vão dizer “ele foi honesto, ele disse que é um aprendiz”. As melhores mantas são as de retalhos!
Entrevista: Rui Marques
Foto: Paulo Mendonça