Diretor: Sebastião Lima
Diretora Adjunta: Carla Félix
Últimas Notícias

Nesta edição JP entrevista o Tenente-General Luís António Morgado Baptista, Comandante do COA - Comando Operacional dos Açores, que falou sobre os 30 anos da unidade militar que dirige.

Jornal da Praia (JP) - O Comando Operacional dos Açores (COA) assinalou em Angra do Heroísmo nos dias 25 e 26 de Fevereiro o seu aniversário. O que representa esta data?

Morgado Batista (MG)) - O Comando Operacional dos Açores foi criado há precisamente 30 anos, pelo decreto lei 48, de 26 de fevereiro de 1993, razão pela qual essa data é geralmente escolhida para assinalar o seu dia festivo, sendo uma oportunidade para estreitar os laços que nos unem aos cidadãos portugueses e, em particular, aqueles que residem nos Açores. Sendo um aniversario especial, uma vez que se comemora o 30º aniversario do COA, entendemos assinalá-lo através de um programa mais completo do que habitual e trazer as comemorações para a Terceira, ilha que desde há muito acolhe os militares das Forças Armadas e cuja importância militar, ao longo da nossa história, é manifestamente reconhecida.

JP - Qual a estrutura e missão do Comando Operacional dos Açores?

MG - O Comando Operacional dos Açores tem por missão planear, treinar e comandar as forças e meios das Forças Armadas empenhados em operações na Região Autónoma dos Açores, sejam elas de defesa militar ou de apoio militar a emergências civis. Para tal, mantém um relacionamento estreito com os Comandos de Zona Marítima, Militar e Aérea dos Açores, bem como com o Comando Conjunto para as Operações Militares, sediado em Oeiras, no continente.

Para cumprir esta missão, o COA conta com cerca de cinquenta militares e civis, que estão repartidos em três áreas essenciais – o Gabinete de Apoio ao Comando, o Estado Maior e os Órgãos de Apoio.

O COA é um comando de natureza conjunta, o que significa que integra militares dos três Ramos das Forças Armadas, ou seja, da Marinha, do Exército e da Força Aérea. Atualmente, prestam serviço no COA 10 militares da Marinha, 21 do Exército e 9 da Força Aérea, a que se juntam 8 funcionários civis. Cerca de 30% dos efetivos são femininos.

Estamos instalados na zona da Grotinha, nos arredores de Ponta Delgada.

JP - Desde Julho de 2022 que o COA possui um centro de operações modernizado, nos Açores, com uma nova sala de operações que, além de criar “redundâncias no comando e controlo” das Forças Armadas, permite uma resposta mais eficaz em caso de emergências civis e militares. A crise sísmica de S. Jorge foi exemplo dessa eficácia, em consonância com o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA)?

MG - O centro de operações é um elemento central para o cumprimento da missão do COA. Através dele é possível acompanhar as operações em curso e também apoiar as atividades de planeamento de operações futuras. Após um investimento significativo, o centro de operações do COA é hoje uma estrutura moderna, equipado com sistemas de informação de última geração, que nos permitem ter um conhecimento atualizado dos panoramas marítimo, terrestre e aéreo dos Açores. Este conhecimento da situação pode estender-se a todo o território nacional, caso seja necessário, razão pela qual o centro de operações do COA está em condições de apoiar a execução de operações em qualquer área do nosso país, materializando a referida “redundância no comando e controlo”. Ou seja, através do centro de operações do COA é possível continuar a comandar operações militares em curso em qualquer zona do território nacional, caso exista uma falha no funcionamento dos centros de operações localizados no continente ou na Madeira.

A crise sismovulcânica de S. Jorge permitiu confirmar o excelente relacionamento existente entre as Forças Armadas e o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, que resulta de um trabalho desenvolvido desde há muito e consolidado pela participação do SRPCBA nos exercícios da série AÇOR, do COA, e das Forças Armadas nos exercícios da série Touro, da Proteção Civil Regional. Já após o término das operações em S. Jorge, o SRPCBA participou no exercício Açor 22, realizado em Novembro do ano passado, em Ponta Delgada, destacando para o COA o seu posto de comando de ilha, que foi colocado “ombro a ombro” com o Posto de Comando Avançado do COA ativado durante o exercício. Essa foi uma lição retirada da operação realizada em S. Jorge e que muito contribuiu para a excelente sincronização de esforços entre as Forças Armadas e a Proteção Civil, ao longo das diferentes fases da crise sismovulcânica.

JP - Os meios que o COA possui nos Açores são os necessários para cobrir a disparidade geográfica do arquipélago dos Açores?

MG - Para responder às situações que implicam o emprego das Forças Armadas, em missões de defesa militar ou de apoio militar a emergências civis, o COA tem à sua disposição não apenas as capacidades militares que se encontram sediadas nos Açores, mas também as que se encontram no continente. É testemunho disso a ativação de um conjunto alargado de forças e meios para o apoio às Flores e ao Corvo, após a passagem do furacão Lorenzo, bem como na resposta à crise sismovulcânica em S. Jorge e na recente instalação de um módulo sanitário no Corvo. Essa projeção de capacidades militares está suportada em planos previamente existentes e é frequentemente treinada, nos exercícios da série Açor, mas também da série Lusitano, do Comando Conjunto para as Operações Militares.

Importa ter em conta que as capacidades militares sediadas nos Açores têm acompanhado a evolução das necessidades operacionais e a natureza das operações militares. Exemplo disso é a recente capacidade de sistemas aéreos não tripulados, vulgarmente conhecido por drones, de que o COA passou a dispor e que irão apoiar as operações realizadas sob o comando do COA, mas também as atividades realizadas pelos Comandos de Zona e entidades civis regionais, com relevo para o SRPCBA, num apoio que se alarga às atividades de investigação, conduzidas em parceria com a Universidade dos Açores ou centros de ciência e tecnologia localizados nos Açores.

O COA realizou, entre os dias 22 e 25 de Fevereiro, o primeiro exercício de drones conduzido na RAA, que designámos por Dronex 2023, envolvendo drones de diferentes tipologias, ou seja de diferentes caraterísticas e possibilidades, pertencentes a diversas entidades militares, como a Esquadra 991 da Força Aérea Portuguesa, o Centro de Informações e Segurança Militar, o Comando Operacional da Madeira e o Comando Operacional dos Açores, num total de cerca de uma dezena de aeronaves. Neste exercício participou igualmente uma equipa de drones da Polícia de Segurança Publica, uma outra da Secretaria Regional de Ambiente e Alterações Climáticas, alem de uma equipa da Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação – ARDITI, da Madeira, com drones especialmente desenvolvidos em parceria com o Estado Maior General das Forças Armadas.

O exercício permitiu confirmar a capacidade do COA coordenar o emprego destes meios, em cenários operacionais de diferentes naturezas, seja no âmbito da defesa militar, seja de apoio militar a emergências civis, a partir do seu Posto de Comando Avançado.

JP - Relativamente à Base das Lajes, onde se enquadra operacionalmente o COA?

MG - A Base Aérea nº 4 é uma unidade da Força Aérea, que apoia a operação de meios aéreos, sejam eles os que ali estão sediados em permanência, mas também outros meios que reforcem o dispositivo de forças, necessário a uma operação conduzida nos Açores. Nas operações realizadas sob o comando do COA, mas igualmente em exercícios, já foi possível verificar a importância da Base Aérea nº 4, no apoio logístico às operações, permitindo a projeção de pessoal e material proveniente do continente ou da Madeira, em aeronaves de maior capacidade, que depois é repartido por outras aeronaves, tendo em conta as restrições que possam existir na área onde as operações se desenrolam.

Entrevista: Rui Marques

Fotos: COA

Pin It

Acerca do Jornal da Praia

Este jornal é um quinzenário de informação geral que tem por objetivo a divulgação de factos, opiniões, debates, ideias, pessoas, tendências, sensibilidades, em todos os domínios que possam ser importantes para a construção de uma sociedade mais justa, livre, culta, inconformada e criativa na Região Autónoma dos Açores.

Este jornal empenha-se fortemente na unidade efetiva entre todas as ilhas dos Açores, independentemente da sua dimensão e número de residentes, podendo mesmo dar atenção primordial às ilhas de menores recursos, desde que tal postura não prejudique a implantação global do quinzenário no arquipélago dos Açores.

Área do assinante