ZONA FRANCA
BRINDAR COM CAFÉ
No Dia do Pai, faleceu o comendador Rui Nabeiro. Quem for supersticioso e acredite em conjugação de astros dirá que está longe de ter sido uma mera coincidência a morte do pai da Delta, e de Campo Maior, no dia 19 de Março.
A Delta tem os seus produtos disponíveis em 35 países e ambiciona entrar no “top ten” das marcas de café mundiais. Várias vezes foi considerada a marca mais reputada em Portugal, num estudo que avalia a resposta de 43 mil consumidores perante mais de 800 marcas.
Poucas vezes terá feito tanto sentido o lema “o homem sonha, a obra nasce” quanto em 1961, no nascimento do Grupo Nabeiro. A obra cresceu e tomou tais dimensões que despertou a cobiça de grandes grupos mundiais, com a Nestlé à cabeça. A firme e determinante recusa em vender a Delta é uma evidente prova de que há quem acredite que os negócios vão muito para além do dinheiro.
A Câmara Municipal de Campo Maior decretou cinco dias de luto municipal pela morte do “pai” Rui Nabeiro. Segundo o seu Presidente, o concelho perdeu “uma referência, uma figura incontornável, um humanista”. A Câmara de Elvas decretou três dias de luto e Badajoz vai declará-lo como filho adoptivo da cidade.
São vários os exemplos em que o Governo da República decretou luto nacional pelo falecimento de ilustres figuras do mundo do espectáculo e do desporto. Quando o país perde além do seu mais ilustre empresário, um verdadeiro visionário, inspirador, acérrimo defensor do interior e exemplo máximo de preocupação social e participação cívica com a sua comunidade e país, os governantes ficam-se por meras palavras.
Infelizmente, esta atitude é o claro reflexo da forma como os empresários e as empresas são vistos pelos governantes, em particular, e pela classe política em geral. As empresas são tratadas como mera fonte de pagamento de impostos, sem que haja incentivo ao reinvestimento dos lucros, e como locais de visita obrigatória em períodos de campanha eleitoral.
Se ao nível dos Governos é este o panorama, seria de esperar que a nível autárquico o comportamento fosse diferente, à luz da postura de Campo Maior, Elvas ou Badajoz. Lamentavelmente, estes três casos representarão excepções a uma regra generalizada.
Quantas vezes são ouvidas as empresas sobre temas estruturantes para os seus concelhos? Quantos municípios se preocupam em perceber as dificuldades de quem garante a maioria dos empregos no concelho? Quantas decisões com impactos decisivos sobre o futuro das empresas e dos seus trabalhadores, são tomadas de ânimo leve?
Quanto mais fracos são os governantes mais certezas têm. A forma mais simples de esconder a fraqueza é rodear-se de elementos ainda mais fracos que não ousem ameaçar as lideranças. Enquanto isso, vamos reclamando da falta de qualidade dos nossos deputados e dos nossos governantes, sem verdadeiramente fazermos algo que altere este rumo.
Em 1962 e em 1972, Rui Nabeiro foi nomeado Presidente da Câmara de Campo Maior, tendo exercido a função por menos de um ano. Na primeira vez, demitiu-se por incompatibilidade com os restantes membros da Câmara e, na segunda, em choque com o Governador Civil de Portalegre.
Os empresários portugueses perderam, no Dia do Pai, o seu expoente máximo. O homem partiu, mas a obra ficou. A todos nós, compete procurar fazer mais e melhor a cada dia, com a certeza de que há poucos homens com uma boa cabeça e um bom coração. Devemos-lhe muito mais que uns dias de luto ou um minuto de silêncio.
Luis Vasco Cunha
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*ZONA FRANCA discorda ortograficamente
